Faz tempo que a meditação já não é um assunto novo. Mas para a maioria das pessoas ainda há muitas informações sobre essa prática que permanecem desconhecidas. Isso inclui os efeitos fisiológicos que ela pode ter no cérebro.

Embora muitas pessoas ainda associem a meditação à arte de “não pensar em nada”, meditar não é bem isso. Segundo a definição do pesquisador brasileiro Dr Roberto Cardoso para uma prática ser de fato chamada de meditação ela precisa ter uma técnica específica que usa um ponto para o qual levamos a nossa atenção (vamos apelidá-lo de âncora) e com isso reduzimos o nosso envolvimento com as sequências de pensamentos.

Então, ao invés de não pensar em nada, focamos nossa atenção na “âncora” e quando um pensamento vem a cabeça nós voltamos a prestar atenção na “âncora” sem nos envolvermos com ele, mantendo uma postura que pretende não analisar, não julgar e não criticar este pensamento. Ou seja, meditar não é não pensar em nada, e sim não se envolver com as sequências de pensamentos.

Se você pratica meditação regularmente, pesquisadores em todo o mundo já comprovaram que isso pode ter efeitos significativos em seu cérebro. Veja o que eles encontraram nas pesquisas:

Seu cérebro pode mudar e crescer durante toda a sua vida.

Isso é chamado de neuroplasticidade, e é um termo relativamente novo no campo da neurociência. O modo como os cientistas costumavam pensar sobre o cérebro, até recentemente, era que ele estaria conectado ao desenvolvimento inicial e à primeira infância. Depois disso, a única coisa que aconteceria ao cérebro é que ele perderia células à medida em que envelhecemos.

Pesquisas recentes têm desafiado essa teoria. Os neurocientistas agora sabem que você pode ensinar novos circuitos a um cérebro adulto. A maioria das mudanças ocorre no nível micro-anatômico e são de curta duração – por isso é mais difícil medi-las, mas algumas alterações ocorrem mesmo no nível macro-anatômico e podem ser capturadas por modernas tecnologias de imagem como a ressonância magnética.

 

A meditação muda a massa cinzenta do cérebro

 

Mas, o que é mesmo essa massa cinzenta – e o que há de tão impressionante em que seja capaz de mudar?

 

Quando uma pessoa aprende uma habilidade particular – como a meditação – ela está exercitando essas áreas de massa cinzenta (que são as células cerebrais conectadas umas às outras), cujo trabalho é formar essa habilidade. Assim como nós percebemos o ganho muscular após o exercício físico, pesquisas da Universidade da Califórnia apontam que a meditação pode estimular o crescimento de novas células cerebrais – o que significa uma massa cinzenta mais mensurável em certas áreas do cérebro.

A meditação também tem sido associada a mudanças no hipocampo, a parte do cérebro responsável por formar memórias e consciência espacial.

Um estudo de 2011 publicado pela Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA comparou os cérebros de pessoas que meditaram por cerca de 40 minutos por dia com os cérebros de pessoas demograficamente pareadas que não meditaram de forma alguma.

Exames de imagem cerebrais revelaram que havia algumas áreas do cérebro do meditador com mais massa cinzenta – e uma dessas áreas era o hipocampo.

O mesmo estudo também comparou os cérebros dos não-meditadores àqueles que acabaram de passar por um programa de meditação de oito semanas, encontrando os mesmos resultados.

Esta área do cérebro, responsável pela conversão de memórias de curto prazo em memórias de longo prazo, é muito importante – portanto, a existência de matéria cinzenta extra é algo para se comemorar.

A meditação também está ligada ao crescimento das células cerebrais no córtex pré-frontal – a parte do cérebro responsável pela tomada de decisões e bom senso.

Logo atrás da testa, o córtex pré-frontal é responsável por tudo, desde a decisão entre o certo e o errado, até a análise das situações e o pensamento abstrato da pessoa. De acordo com o Dr Craig Hassed, da Monash Medical Faculty (EUA) esta é outra área do cérebro que ganha uma massa cinzenta mais espessa entre aqueles que meditam regularmente.

Enquanto algumas partes do cérebro parecem crescer com a prática da meditação, as amígdalas das pessoas que meditam são tipicamente menores que a média. Mas isso é bom.

“Se você está tentando se livrar de um tigre ou de um tubarão, sua amígdala dispara; isso desencadeia uma reação de fuga. É o centro de estresse”, diz o Dr. Hassed.

Obviamente, é importante ter um centro de estresse funcional, mas o problema surge quando a amígdala está disparando sem motivo, que é o que acontece quando uma pessoa está cronicamente ansiosa e estressada – como muitas pessoas são. À medida em que a meditação acalma a mente, ela, por sua vez, pode acalmar a amígdala, reduzindo sua atividade.

A meditação pode literalmente modificar o seu cérebro. E basta apenas um pequeno tempo de prática a cada dia.

Fontes:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3004979/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15519952

Monash University (Melbourne):

https://www.youtube.com/watch?v=XrTnaf4cKhI